|
|
Romance de 1995, exemplar da sua 59a reimpressão. José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998.
É angustiante comentar um romance que tem como tema principal os efeitos de uma pandemia, no momento em que enfrentamos a COVID-19 e suas consequências. Por outro lado, a história criada por Saramago vai muito além dos efeitos da pandemia que vivemos, pois a cegueira generalizada leva a Humanidade as suas origens, com a fome e a sede transformando homens e mulheres em seres selvagens; ainda que não possam enxergar suas vítimas ou predadores. “Provavelmente, só num mundo de cegos às coisas serão o que verdadeiramente são...”, diz o personagem. Contudo, farinha pouca, meu pirão primeiro. E entram na disputa matilhas de cães que enxergam e farejam oportunidades, ainda que em algumas vezes seja a carne de um outro animal que, até algum tempo atrás, é quem dava as ordens. É o caos!
“...o mais certo é o mundo ter começado assim.” Sem escrúpulos ou qualquer principio ético e moral. A força dita as regras em um ambiente criado para quarentena dos primeiros cegos e prováveis contagiados que, se não o fossem, assim o seriam. “O mundo está todo aqui dentro.”Sim, pelo menos bem representado no que o ser humano tem de melhor e pior, seja pela sua resiliência, seja pela sua ganância: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo, ou no partir não tem arte.”
A paralisação é total. Não há luz, água, indústria, comércio, serviços, governo, somente hordas de cegos a perambularem pelas ruas e invadirem lojas, casas e prédios em busca de alimentos e pouso. Não há qualquer condição sanitária ou de limpeza presente no mundo dos cegos. “Nunca houve tanto silêncio no mundo, os cinemas e os teatros só servem a quem ficou sem casa.”
O velho ditado: na terra de cego quem tem um olho é rei se faz presente e, neste caso, mentir pode ser uma forma de evitar desgosto maior aos companheiros: “...assim está o mundo feito, que tem a verdade muitas vezes de disfarçar-se de mentira para chegar aos seus fins,...”. Há disputa por tudo e quando dois cegos se põem em luta, sofrem os que por perto estão, ainda que não o estivessem para assistir, obviamente, mas apenas pela imobilidade. “Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira.”
Presentes a resistência e a determinação, então, ainda se dará oxigênio à esperança. “ Sem futuro, o presente não serve para nada.”E não há de ser discutido o destino porque “...nenhum de nós, candeias, cães ou humanos, sabe, ao princípio, tudo para que tinha vindo ao mundo...”
“..., um copo de água é uma maravilha, não falava para ele, não falava para ninguém, simplesmente comunicava ao mundo a maravilha que é um copo de água.” Talvez tenha sido Saramago, além de serralheiro, desenhista, funcionário público e jornalista, um profeta do final do milênio passado. Sim, talvez estejamos cegos há muito tempo e a epígrafe deste livro é um alerta: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” |
|
Logo no início o autor nos leva à reflexão quando diz que “...milagre mesmo, por mais que nos digam, não é boa coisa, se é preciso torcer a lógica e a razão própria das coisas para torná-las melhores.” Podemos até discordar por necessidade de alguns milagres, mas o homem tem razão!
A humanização dos personagens é a grande sacada, seja pelos sonhos que atormentam José – que sofre a pressão de ter fugido de Belém para salvar a vida de seu primogênito, sem em qualquer momento ter pensado em avisar aos demais pais o que soube com antecedência. Vinte e cinco meninos morreram.
Maria, mulher, mãe e viúva. Submissa como assim o eram todas as mulheres à época; sofrida como toda mãe o é até hoje; viúva e sozinha para criar seus filhos. Uma tragédia que não parou de acontecer desde então.
E o menino Jesus, que se descobriu adolescente percebendo as mudanças hormonais e pensamentais (não resisti!). Como qualquer um aos catorze anos já se acha forte e capaz para julgar o que é melhor para si. Sai em busca de sua verdade. Independência. Até que surge Maria de Magdala, prostituta regenerada pelo amor a Jesus, filho de um carpinteiro, e não por ser ele o Filho de Deus. Decida o leitor no que acreditar!
Dúvidas, angústias, segredos e revelações o acompanham por toda sua existência e “Jesus olhava para a sua pobre alma e via-a como se quatro cavalos furiosos a estivessem puxando e repuxando em quatro direcções opostas,...”
Sob o domínio de Roma a Terra Santa recebe mensageiros de paz e guerra, do Bem e do Mal. Deus e o Diabo, que negociam a vitimização de Jesus como forma de aumentar seus seguidores, pois quem acredita no Bem também sabe do Mal. “E qual foi o papel que me destinaste no teu plano.” Perguntou Jesus a Deus. O de mártir, meu filho, o de vítima, que é o que de melhor há para fazer espalhar uma crença e afervorar uma fé.” E assim o é até os dias de hoje! |
|
Nascido em 1903, na Índia, o autor Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo George Orwell, alcançou o sucesso, principalmente, pelos seus romances A Revolução dos Bichos e 1984.
O objeto de nossa apreciação recai sobre o primeiro livro, que o editor apresenta como sendo uma referência á Revolução Russa de 1917. No entanto, sua leitura mostra que, com rara felicidade, a obra vai muito além do socialismo/comunismo. Ela trata de regimes totalitários que sufocam a democracia e a liberdade da sociedade, através de factoides (ou fake News, como queiram!), mentiras, desrespeito a Constituição local, traições e corrupção.
Após o sucesso do Animalismo, são aprovadas regras básicas de comportamento e convivência que sofrem mudanças ao longo do tempo, para beneficiar aqueles que estão no poder (qualquer semelhança com que ocorre no Brasil, não é mera coincidência). A desobediência está na liderança e, para não se fugir as regras, mudam-se as regras. Exemplo disso são as alterações sofridas por alguns dos sete mandamentos instituídos pela governança, tais como: Nenhum animal beberá álcool EM EXCESSO - acréscimo realizado após um porre da cúpula do poder; ou Nenhum animal matará outro animal SEM MOTIVO – depois da execução daqueles que, por algum motivo, discordaram dos mandantes. Por fim, o que prevalece é que “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros.”
A sátira está em colocar os porcos no Poder (aqueles que vivem na sujeira, na imundice). São eles os mais inteligentes dos animais da Fazenda Solar (sabem ler e escrever com desenvoltura). Assim, vendem a ideia de que “Só a bravura não basta... A lealdade e a obediência são mais importantes”. A malicia e o poder de persuasão do porta voz do comandante debocham da ignorância e falta de Educação dos demais: “Eu poderia lhe mostrar isso,..., se você soubesse ler.” A maledicência destrói heróis e a História de uma sociedade. Todo regime totalitário quer reescrever o passado aproveitando-se de uma memória curta e falha.
Atualíssimo, apesar de ter sido publicado há mais de 75 anos, esse livro agrada o leitor de qualquer idade ou corrente política, pois ele não escolhe lado, só mostra o quanto é perversa a humanidade. |
|
Uma releitura da história que conhecemos. Eu nunca tinha parado para pensar que o homem tenha coexistido, com uma ou mais de sua fases de evolução. Neandertais, erectus, habilis...Caramba! Bora ler! |
|
Sim, ai não dá! Você fica empolgado e vai querer saber mais. Então, a leitura continua! |
|
“Seria engraçado se não fosse trágico”, já ouviram isso? Mas é! Depois de apresentar a evolução da espécie humana em seus dois primeiros livros, Yuval Harari mostra que o predador alfa, o ser mais inteligente do planeta, está produzindo sua própria destruição. Como sobreviver a tudo isso? Há profissões que já deixaram de existir e o futuro tecnológico promete acabar com muitas outras. Prepare-se! |
|
Publicado em 1605, pelo autor espanhol Miguel Cervantes, o multipremiado romance faz sucesso há mais de quatrocentos e vinte anos. É considerado o primeiro romance moderno e um dos maiores clássicos da literatura mundial. Ao longo do tempo foi adaptado para o teatro, cinema e história em quadrinhos. Até Portinari retratou a história de Dom Quixote que, de tão famoso, deu origem ao adjetivo "quixotesco", referindo-se aquele que, apesar das dificuldades, segue em frente acreditando e lutando contra as adversidades.
Dono de uma propriedade onde vive com uma governanta e sua sobrinha, Alonso Quixano, é um apaixonado por livros, em particular, sobre os que contam histórias de cavaleiros, com suas lutas, glórias e amores.
Em função de uma esquizofrenia (doença reconhecida dessa forma somente a partir de 1911), Quixano passa a trazer para sua vida real a ficção de suas leituras, transformando-se no cavaleiro Dom Quixote. Com o tempo e algumas promessas, ele consegue a ajuda de um aldeão que se transforma em seu engraçado, curioso e fiel escudeiro Sacho Pança.
Apesar das distorções que o leva a viver situações totalmente fora da realidade, o caráter, a fé e a bondade de Quixano, o bom, estão presentes em Dom Quixote, como podemos observar quando ele aconselha seu escudeiro: "Dê mais atenção aos pobres que aos ricos, Trate todos bem, de maneira igual, dos criadores aos nobres. E, Sancho, o conselho mais importante: seja justo."
Seguindo o conselho, não seria justo de nossa parte contar qualquer aventura de nosso herói, roubando o prazer que deve ser conferido aos leitores desta grande obra. |
|
Kenneth Maria Follet, nasceu no País de Gales, em junho de 1949 (73 anos).
Ambientado no início do século XX, mais precisamente, antes da Primeira Guerra Mundial, o romance aborda o inicio da luta da mulher pelo direito ao voto (Movimento sufragista). E pensa a jovem Charlotteque “Os homens aceitavam um mundo brutal e injusto porque não era brutal e injusto para eles, mas sim para as mulheres. Se estas também tivessem poder, não restaria mais ninguém para ser oprimido.” Hum! Na verdade os oprimidos são muitos até hoje: negros, pobres, deficientes físicos, e tantos outros.
O confronto de ideais entre um anarquista russo com as estratégias diplomáticas de um Conde inglês (que serve a ninguém menos do que a Winston Churchill) - que têm interesses contrários em torno das negociações para a assinatura de um contrato de ajuda mútua entre os dois países, Rússia e Inglaterra, com vistas a enfrentar uma Alemanha em ascensão na Europa – resulta em sucessivas tentativas de assassinato de um Príncipe russo, com descrições de ataques que em muito lembram as ações terroristas atuais.
Relacionamentos impostos, mentiras e traições, e um ensinamento sobre “A moralidade de
Tolstói. Fazer o bem não à torna feliz, mas fazer o mal certamente a deixará infeliz.”
O cenário de uma Londres movimentada e dividida entre as velhas carruagens e alguns automóveis a combustão, que já se impunham no trânsito, não nos oferece uma boa imagem de limpeza e tráfego das ruas principais.
Por fim, a intervenção de Churchill no evento final é o que choca. É o Poder conduzindo o rumo da história, como sempre foi e como sempre será.
|
|
Sobre o autor
Romancista e dramaturgo francês, Alexandre Dumas produziu dois clássicos da literatura: Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, este último, lançado em 15 de janeiro de 1846.
I Volume
A saga de Edmond Dantès ocorre em um período de grandes transformações na França e na Europa, com a Revolução Francesa influenciando outras monarquias da região. Estadista e grande estrategista, Napoleão Bonaparte I (título dado pelo Senado francês) avança sobre várias nações da região alargando o poder do Império Napoleônico. Ao tentar isolar comercialmente a Inglaterra, é desafiado pela Rússia e por Portugal, decidindo invadir as duas nações. Em Portugal, provoca a transferência do comando do reino para sua colônia mais promissora: o Brasil. Na Rússia - como veríamos acontecer um século depois, com as tropas alemãs comandadas por Adolph Hitler - as tropas francesas também perderiam suas batalhas em solo russo devido ao rigoroso inverno, com intenso frio muita neve e lama.
Marujo servidor de uma companhia de navegação e apaixonado por Mercedes, Edmond, aos 19 anos, se vê envolvido em uma trama maquiavélica, engendrada por pessoas de seu círculo de amizade (isso era o que ele imaginava!) para destruir suas pretensões de chegar ao comando do navio Pharaon e de se casar com a catalã.
Ainda que já arquitetado o plano, ocorre que: aproveitando-se da ingenuidade e honestidade do rapaz, quando o procurador substituto Villefort, descobre o teor de uma carta que Edmond recebeu em passagem pela Ilha de Elba, isso se torna decisivo para o aprisionamento do rapaz e o início de uma história de abnegação e superação. Mas mesmo nas piores prisões existem anjos da guarda, alguns com nome: o de Dantès se chamava Abade Farias.
Entre intrigas, mentiras, traições, corrupção e suborno, a sociedade francesa se equilibra entre bonapartistas e monarquistas, todos querendo um naco de poder, uma posição, um cargo que conceda autoridade e riqueza, respeito e glória. Touché!
Liberto de seu cárcere, Edmond deixa de existir e dá lugar ao Conde de Monte Cristo e outros mais. A respeito disso não devemos falar para não dar spoiler, estragando a viagem que o leitor deverá fazer nos labirintos dessa história formidável que, estão contidas em seu primeiro volume de setecentos e doze páginas. Não se assuste, não dá nem para cansar. Vamos ao segundo volume.
II VOLUME
Já com seu plano de vingança arquitetado, Edmond transfere-se para Paris com o objetivo de se aproximar da alta sociedade parisiense, onde encontrará as famílias de Villefort, Danglars e Morcef.
A vida foi benevolente com seus algozes, pois esses ganharam títulos, riqueza e respeito. Ferdinand Mondego se torna o Conde de Morcef; Danglars barão; e Villefort, um homem poderosíssimo como o procurador do rei. Mas a vingança do Conde de Monte Cristo é implacável e todos terão seus dias de escuridão. Uma tempestade de acontecimentos funestos os espera.
Por outro lado, Monte Cristo também irá ajudar muita gente, tornando-se para muitos um deus indecifrável e misterioso. E os maiores beneficiários desse seu lado humano serão os familiares do Sr. Morrel, seu antigo patrão, que lutou para ajudá-lo quando todos lhe viraram as costas.
Contudo, ao executar seus planos de vingança, nem tudo sai como o planejado e, é neste momento, que o homem que saiu de um cárcere de catorze anos para plena riqueza e poder, não escapa às crises de consciência. É verdade que não dura muito, até porque, após a morte de uma pessoa não há o que fazer, ou será que há?
Se não pelo exposto, o fascínio que esse romance exerce sobre seus leitores por quase dois séculos, já seria o bastante para o leitor se interessar e embarcar nesta fantástica aventura. |
|
Tratamos aqui da leitura de um best-seller.
Sim, é um livro de autoajuda, mas que trás em si pensamentos e histórias de sucesso de gente conhecida e famosa que, realmente, pode servir a muita gente. Sua leitura é fácil e prazerosa.
Napoleon Hill foi um escritor estadunidense influente na área de autoajuda. Assessor de Woodrow Wilson e Franklin Delano Roosevelt, presidentes dos Estados Unidos. Dizia que: “o que a mente do homem pode conceber e acreditar, pode ser alcançada”.
Portanto, tudo é possível! E os últimos avanços tecnológicos nos mostra o quanto isso é verdadeiro, vide a revolução ocasionada pela criação da Internet e mais recentemente, pela plataforma ChatGPTque impulsiona o uso da inteligência artificial.
Algumas coisas parecem óbvias, como por exemplo: “O ponto de partida de todas as conquistas é o desejo”, sim, mas atrelado a isso temos que ter persistência, força e energia para não esmorecer. Certos de que“Pobreza e riqueza podem mudar de lugar.
Mas quando a riqueza toma o lugar da pobreza, a mudança acontece por meio de planos bem concebidos e cuidadosamente executados”. Segundo Hill, isso não é válido para a pobreza. “A pobreza não precisa de plano. Não precisa de ajuda de ninguém porque é ousada e implacável. A riqueza é acanhada e tímida. Precisa ser atraída”.
Quem sabe o leitor já não está de olho nela há bastante tempo, hein? |
|
Confesso que não é o tipo de leitura que mais gosto, contudo, trata-se de um thrillercheio de questões morais e surpresas. Gera medo, irritação, dúvidas, e por fim, uma íntima cumplicidade com a protagonista, DarbyThorne, que quer fazer a coisa certa, ainda que isso possa lhe custar à própria vida! |
|
|